Fosfodiesterase 7: novo alvo terapêutico em potencial do câncer de ovário
- Felipe Siston
- há 1 hora
- 3 min de leitura

Palestrante - XIX Simpósio de Oncobiologia: Dra. Letícia Batista Azevedo Rangel
Filiação: UFES, Espírito Santo
Por Dra. Bárbara Du Rocher (FIOCRUZ, Oncobio Experts e Populariza a Ciência do Câncer)
Na última plenária do Simpósio, a Prof. Dra. Letícia Batista Azevedo Rangel da UFES - Espírito Santo nos trouxe uma síntese da sua linha de pesquisa sobre o papel da fosfodiesterase 7 no câncer de ovário. Segundo a Dra. Letícia, o interesse do grupo no estudo do câncer de ovário se deu, dentre outros motivos, pela sua alta letalidade, sendo a principal causa de morte por tumores ginecológicos e a 5ª causa de mortes relacionadas a câncer entre mulheres nos EUA. A letalidade é tamanha que, para este ano, nos EUA a estimativa é que haja 20.890 novos casos e 12.730 mortes por câncer de ovário. Esta alta letalidade deve-se em parte pelo diagnóstico tardio e resistência terapêutica que frequentemente acompanham as pacientes, de forma que estudos que busquem um diagnóstico mais precoce e novas abordagens terapêuticas são cruciais.
Do ponto de vista da quimiorresistência, embora para alguns tipos de câncer de ovário a resposta inicial ao tratamento de primeira linha* seja maior que 80%, a maioria das pacientes apresentam recorrência do tumor, contribuindo para a baixa taxa média de sobrevida livre de doença (menor que 18 meses após o fechamento do diagnóstico). Neste sentido, na busca por novos alvos terapêuticos, o grupo da Dra. Letícia encontrou, após análises comparativas por RNA-seq entre amostras de tuba uterina (controle saudável) e amostras de pacientes com câncer de ovário seroso de alto grau (HGSOC), um total de 243 transcritos diferencialmente expressos. Destes, a fosfodiesterase 7A (PDE7A) chamou atenção do grupo pois encontrava-se 2,54x mais expressa nos tumores em relação aos tecidos saudáveis.
As fosfodiesterases são enzimas que hidrolisam o AMP cíclico, um mensageiro que regula e medeia diversas respostas a sinais extracelulares, sendo a PDE7A uma das enzimas de maior afinidade pela AMP cíclico. A PDE7A já foi descrita como aumentada em carcinoma endometrióide e em câncer de mama triplo negativo. Além disso, estudos de silenciamento de PDE7A mostraram uma redução da migração, invasão e crescimento tumoral em câncer endometrial. Visto que já existe inibidor farmacológico seletivo para PDE7A, a sulfonamida BRL50481, o grupo resolveu estudar a utilização desse fármaco em associação com paclitaxel, objetivando a criação de uma estratégia terapêutica mais eficaz.
Os resultados do grupo são promissores e mostram que o uso combinado de BRL50481 com paclitaxel in vitro permitiu uma redução da concentração de uso do paclitaxel por potencializar sua ação. Essa associação pode trazer benefícios clínicos por ter o potencial de diminuir o risco de neurotoxicidade induzida por taxanos (como o paclitaxel) e assim aumentar a adesão ao tratamento. No entanto, a dose necessária de BRL50481 pode não ser clinicamente viável, razão pela qual o grupo da Dra. Letícia está investindo no desenvolvimento de um fármaco a partir do protótipo BRL50481. Para além disso, as perspectivas do grupo incluem testes em modelos animais, investigação de possíveis efeitos off-target da inibição de PDE7A, dentre outros testes.
Enfim, encerramos as publicações sobre as palestras do XIX Simpósio de Oncobiologia da UFRJ, edição 2025. Como pudemos constatar ao longo da cobertura das palestras principais, o simpósio deste ano foi extremamente enriquecedor e trouxe pesquisadores que estão se destacando no cenário nacional da pesquisa contra o câncer. Por fim, fechamos esta cobertura com uma certeza bem otimista e realista: O conhecimento em oncobiologia está revolucionando a forma como tratamos o câncer!
E se você perdeu o Simpósio deste ano, fique atento! Pois em 2026 ele será ainda mais especial! Aguardamos vocês! Até logo!
* baseado em derivados de platina e taxano.








Comentários