Se não nós, quem será por nós”? Foi com essa frase que induz reflexões sobre a importância de se promover divulgação científica no Brasil - principalmente, em tempos sombrios de desinformação - que a jornalista Claudia Jurberg abriu, no dia 5 de julho, sua palestra na penúltima sessão do ciclo de seminários presenciais do Programa de Oncobiologia em parceria com o Instituto de Bioquímica Médica Leopoldo de Meis (IBqM/ UFRJ).
Experiente jornalista de ciência, Claudia Jurberg teve pioneirismo na implantação do Núcleo de Divulgação do Programa de Oncobiologia. Em sua apresentação, fez uma retrospectiva de sua atuação em divulgação científica nos últimos 40 anos - tempo que milita na área - para refletir, junto aos expectadores, quais seriam as melhores estratégias para combater as “bizarrices” que assolam a sociedade, com campanhas anticiência.
Claudia contou que ingressou, na década de 80, como estagiária na Coordenadoria de Comunicação Social da Fiocruz. E na instituição trabalhou por 37 anos, com um período cedido à UFRJ. Na Fiocruz, esteve presente em momentos marcantes para a ciência brasileira, como a cerimônia de reintegração dos pesquisadores vítimas do episódio que ficou conhecido como “Massacre de Manguinhos”, no qual 10 dos mais eminentes cientistas foram cassados pelo AI-5; a criação do Sistema Único de Saúde, que à época ainda não se chamava SUS; coletiva de imprensa que divulgou o isolamento do vírus da Aids pela primeira vez no País, entre outras importantes descobertas.
Em um dos slides, uma foto da saudosa máquina de escrever. “A letra A se perdeu por tanto uso da tecla” - observou a jornalista. Claudia escrevia os releases à máquina, tirava xerox e contava com a ajuda de um motorista da Fiocruz que levava as sugestões de pautas impressas com as mais recentes novidades da ciência para oferecer aos jornalistas nas redações dos principais veículos da mídia brasileira.
“Era uma época de romantismo, em que a ciência não era desacreditada, e os jornais dedicavam páginas inteiras à divulgação científica, com grande espaço para as descobertas realizadas pela Fiocruz” - relembrou.
Em sua apresentação, Claudia também descreveu o atual momento da ciência nacional com o desmonte dos investimentos públicos na área e provocou os participantes a serem mais ativos na divulgação dos seus resultados científicos. Falou sobre os estudos nos quais está envolvida, nos últimos anos, sobre desinformação durante a pandemia pelo coronavírus e o movimento antivacina da Covid-19 nas redes sociais, e o impacto que isso provoca em nossa sociedade.
Por volta do ano 2000, Claudia Jurberg terminou seu doutorado, cuja pesquisa foi centrada em experiências de um curso de Imunologia voltado a jornalistas, elaborado por ela e que contou com o apoio de consultores científicos. O curso foi ministrado, via chat, em parceria com a professora Vivian Rumjanek (IBqM/UFRJ) e outros cientistas da UFRJ. A partir daí, iniciou colaboração, a convite da professora Rumjanek, com o Programa de Oncobiologia, recém-criado na Universidade. Na época, contava com uma rede de apenas 13 pesquisadores.
Cedida pela Fiocruz à UFRJ, a jornalista fundou o Núcleo de Divulgação do Programa de Oncobiologia e marcou a história da divulgação científica em câncer no Brasil. Com base em pesquisas comparativas sobre a forma de divulgar assuntos relacionados ao câncer na grande imprensa (jornais, revistas, rádio e tv) e, mais recentemente nas redes sociais, desenvolveu estratégias para atuar junto aos jornalistas formadores de opinião na grande mídia, além de explorar linguagens lúdicas, criativas e também acessíveis para aproximar a sociedade da temática câncer, diminuindo preconceitos e visões negativas como morte, dor e sofrimento que sempre são associados à doença. Com essas ações, procurava transmitir conhecimento desenvolvido no âmbito acadêmico-científico na área da biologia tumoral para a sociedade de uma forma simples, leve e democrática.
Para conhecer o vasto trabalho desenvolvido por Claudia Jurberg e sua equipe em mais de 15 anos à frente do Núcleo de Divulgação do Programa de Oncobiologia, acesse a aba “Educação” do site do Programa e navegue pelos submenus para conhecer os jogos, livros, vídeos de animação e exposição desenvolvidos para conscientizar sobre os riscos e prevenção aos diferentes tipos de câncer.
Por Lúcia Beatriz Torres, jornalista de Ciência, responsável pelo Núcleo de Divulgação do Programa de Oncobiologia.
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