Pesquisadora do INCA/Programa de Oncobiologia ganha Prêmio Mulheres e Ciência
- Felipe Siston
- 27 de mar.
- 5 min de leitura
Publicado em 27/03/2025

A cientista Mariana Emerenciano, credenciada ao Programa de Oncobiologia e pesquisadora do Instituto Nacional de Câncer (INCA), foi uma das vencedoras do 1º Prêmio Mulheres e Ciência. A iniciativa é promovida pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) e pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), com apoio do Ministério das Mulheres, British Council e CAF. O prêmio, em sua primeira edição, tem como objetivo reconhecer e valorizar o trabalho de mulheres cientistas que contribuem de forma significativa para o avanço da ciência no Brasil, promovendo a equidade de gênero e incentivando a participação feminina em pesquisas de alto impacto.
Mariana foi premiada na categoria Estímulo, destinada a mulheres de até 45 anos, na área de Ciências da Vida. Para Mariana, receber essa premiação foi um momento de grande alegria e surpresa, especialmente diante da competição com mais de 600 pesquisadoras talentosas de todo o país. Para ela, esse prêmio representa “um estímulo para continuar sonhando e abrindo novos caminhos” E mais do que isso, diz ela: “ter uma oportunidade de também inspirar outras meninas e mulheres, especialmente as mulheres negras como eu, a ingressarem, permanecerem, e galgarem seu espaço e seu reconhecimento na ciência.”
Desafios das Mulheres na Ciência: Uma Batalha Contínua
Mariana não hesita em apontar os desafios que as mulheres enfrentam na ciência. Ela explica que esses desafios variam de acordo com a área de atuação, a idade e o local onde as mulheres trabalham, mas alguns são comuns a quase todas as cientistas. Um dos principais é a dificuldade de conciliar a vida pessoal com a carreira científica. Ela também destaca a necessidade das mulheres de provar competência e mérito constantemente, algo que é muito mais exigido das mulheres do que dos homens. Ela não deixa de mencionar as questões de assédio moral e sexual, que ainda são uma realidade para muitas mulheres na ciência.
Ela também destaca as desigualdades em oportunidades de financiamento e remuneração. "Existem estudos provando que essas oportunidades de financiamento são menores, nós [mulheres] temos menor remuneração.", afirma.
Para Mariana, premiações como o Prêmio Mulheres e Ciência são fundamentais para o reconhecimento do papel das mulheres na ciência. "Para que o nosso papel na ciência seja reconhecido e as contribuições das mulheres não sejam apagadas.", afirma. Além disso, ela acredita que essas iniciativas são uma forma de evitar retrocessos nas conquistas já alcançadas. "É uma maneira de nos mantermos vigilantes, cientes dos desafios que ainda existem e empoderadas para enfrentá-los", explica.

Avanços Tecnológicos e Pesquisas em Leucemias Infantis
Mariana é uma pesquisadora dedicada ao estudo das Leucemias Pediátricas, envolvendo o estudo das causas genéticas do câncer. Ela destaca os avanços significativos no combate ao câncer, especialmente com o progresso do conhecimento genético e das imunoterapias. Também ressalta que a luta contra a doença envolve uma cadeia de cuidados, desde a prevenção e o diagnóstico precoce até o acesso equitativo ao tratamento. "Tudo isso contribui para um desfecho melhor e para uma luta mais eficaz contra o câncer", afirmou.
No caso das leucemias infantis, Mariana enfatiza a importância de compreender as alterações genéticas específicas de cada paciente. "Está cada vez mais evidente a necessidade de entender como essas alterações impactam a resposta ao tratamento e a metabolização das drogas, para oferecer as melhores chances de cura", explicou. Seu grupo de pesquisa tem se dedicado a estudar essas mutações genéticas, com foco em como elas influenciam a eficácia dos tratamentos e as taxas de cura, especialmente em crianças atendidas pelo Sistema Único de Saúde (SUS). "Acredito que temos contribuído de forma significativa para avançar nessa área", concluiu a pesquisadora, reforçando o impacto positivo de seu trabalho na oncologia pediátrica.
Mariana também chama a atenção para um problema grave no Brasil: a desigualdade social, que também se reflete na área da saúde. Dados recentes apontaram que as crianças indígenas são as maiores vítimas de câncer no nosso país. “Enquanto a região sudeste tem mais de 30 hospitais habilitados para o tratamento do câncer infantojuvenil, A região centro-oeste, onde estão concentradas mais essas crianças indígenas, por exemplo, conta com apenas cinco”, explica. Para ela, é urgente que haja uma maior atenção às populações indígenas e que sejam criadas políticas públicas para garantir o acesso a tratamentos especializados.
Projeto Genomas Brasil e Leucemias Pediátricas
Mariana está envolvida em um projeto financiado pelo Ministério da Saúde, no âmbito do programa Genomas Brasil, e que está também associado ao Programa de Oncobiologia. O projeto visa entender as características genéticas da população brasileira e como elas impactam no tratamento das leucemias pediátricas. O projeto é desenvolvido em colaboração com o Grupo Brasileiro para Tratamento das Leucemias Infantis (GBTLI), que oferece um protocolo de tratamento unificado para crianças e adolescentes de todo o país.
"Nosso objetivo é entender como as características genéticas da nossa população impactam no desfecho do tratamento, ou seja, nas chances de cura ou de recaída", explica Mariana. Ela acredita que, com esse conhecimento, será possível melhorar ainda mais as chances de sobrevida das crianças, especialmente aquelas tratadas no SUS.

EDI e Divulgação Científica: Promovendo a Equidade e a Inclusão
Mariana também é uma das fundadoras da comissão de Equidade, Diversidade e Inclusão (EDI) no INCA, uma iniciativa que busca superar barreiras e promover a inclusão na pesquisa científica. "Acho que um pouco dos desafios e das barreiras que eu vinha enfrentando desde estudante, e agora como profissional na ciência, serviram como um estímulo para tentar fazer diferente, tentar fazer alguma coisa, tentar me mexer. E eu sempre encontrei muitas pessoas também pensando da mesma maneira e estando junto para fazer", explica. Junto com outras colegas, ela iniciou um projeto que hoje se tornou um comitê que atua em todo o INCA, promovendo a diversidade e a inclusão em todas as áreas da instituição.
Além disso, a pesquisadora destaca a importância da divulgação científica, especialmente em um momento em que o negacionismo ganha força. "Durante a pandemia, ficou muito claro o quanto é importante mostrar o que fazemos na ciência e como nosso trabalho impacta a vida das pessoas", diz. Ela e sua equipe têm atuado ativamente na divulgação científica, pelo grupo @_GenLab, através de canais como Instagram, TikTok e YouTube, onde compartilham o trabalho realizado no INCA de forma leve e acessível, mas sempre com compromisso com a verdade e a ética.
A trajetória de Mariana Emmerenciano é um exemplo de dedicação, superação e inspiração. Sua premiação no 1º Prêmio Mulheres e Ciência não só reconhece seu trabalho, mas também reforça a importância de iniciativas que promovam a equidade e a inclusão na ciência. Em um país com desafios tão grandes, especialmente no combate ao câncer, o trabalho de pesquisadoras como Mariana é fundamental para avançarmos em direção a um futuro mais justo e saudável. Para que pesquisas brasileiras alcancem o impacto que merecem, é essencial que todos que queiram contribuir se associem àqueles com capacitação técnica, garantindo que esses estudos sejam divulgados e valorizados. “[Para que,] o nosso valor seja reconhecido e assim não haja retrocesso no que a gente conquistou até hoje e que a gente sabe que é tão importante para o desenvolvimento do nosso país.”
Texto de Beatriz Piassi, aluna de mestrado em Ciências Biológicas (Biofísica) e extensionista do Programa de Oncobiologia. Entrevista e revisão do jornalista Felipe Siston. Fotos de Luara Baggi (ASCOM/MCTI) da cerimônia de entrega do Prêmio Mulheres e Ciência, 12 de março de 2025, no SAUS, Quadra 01, Bloco 'G', Lotes 3 e 5, Auditório do CNPq. Cidade - UF: Brasília - DF. Realização: Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação.
Comments