A imunoterapia contra o câncer avança, mas o alto custo ainda limita o acesso ao tratamento. Ciente desta realidade, o grupo de pesquisa associado ao Programa de Oncobiologia, sob a liderança do Dr. Martin Bonamino (INCA), vem investindo esforços para desenvolver uma técnica, mais rápida e econômica, para fazer a edição genética das células T e escalonar a produção das CAR-T.
A abordagem "Point-of-Care", desenvolvida pelo MartinLab <www.martinlab.net>, chamou atenção do júri e foi a vencedora do Prêmio Marcos Moraes 2022, na categoria "Iniciativas para o Controle do Câncer". A categoria visa premiar entidades e associações que promovam o controle do câncer através de iniciativas transformadoras, que tenham o potencial de modernizar a ação em Oncologia.
O trabalho vencedor intitulado "Desenvolvimento da abordagem Point-of-Care para terapia com células CAR-T em LLA" é de autoria da doutoranda Luiza Abdo e colaboradores do MartinLab: Luciana Rodrigues, Mariana Duarte, Luisa Marques, Priscila Souza, Leonardo Chicaybam e Martin Bonamino.
A cerimônia de entrega do Prêmio foi transmitida ao vivo pela internet, na noite do dia 22 de setembro, precedendo a abertura do 10º Simpósio Internacional Oncoclínicas e Dana-Farber Cancer Institute. Este ano, a premiação recebeu trabalhos de autores de 13 estados brasileiros, a maior parte destes ligados a instituições públicas que atuam no campo da Oncologia.
Aprimoramento de imunoterapia contra o câncer
O principal foco do MartinLab é a pesquisa no aprimoramento de imunoterapias do câncer, principalmente com as conhecidas CAR-T. Uma junção de células T - um dos principais componentes do nosso sistema imune - modificadas com ferramentas de edição gênica que insere um receptor artificial chamado Chirmeric Antigen Receptor (CAR).
As células T possuem a função intrínseca de reconhecer e eliminar as células infectadas, através do reconhecimento de proteínas específicas, denominadas antígenos. Com a adição deste receptor artificial, surgem as células CAR-T para reconhecer qualquer proteína de interesse. No caso, proteínas expressas em tumores. "O objetivo é que as células CAR-T sejam capazes de eliminar células tumorais de forma induzida artificialmente" - observou Luiza Abdo no vídeo explicativo da pesquisa, exibido durante a premiação.
Na clínica essa terapia se resume em: tirar a célula T do paciente, transferir para centros especializados, ativar as células e modificar geneticamente para expressar o CAR, por um período de 15 a 20 dias, para obter o maior número de células e, por fim, transferir novamente para o hospital para as células CAR-T serem reintroduzidas no paciente, para que ocorra o tratamento contra o tumor.
"Essa terapia já se comprovou ser bem sucedida, principalmente para leucemia e linfoma de células B, contudo o custo de tratamento para cada paciente é elevado, tornando essa terapia inacessível para a maioria" - pontuou a pesquisadora. Dito isso, a ideia do projeto foi reduzir o custo desta terapia, além de diminuir o tempo e a logística desta produção.
No MartinLab utilizamos ferramentas não-virais, baseada no sistema de transposon - elementos ou sequências genéticas móveis que se movem de um local para outro promovendo um mecanismo de transposição no genoma. Essa ferramenta chamada de sleeping beauty consegue modificar com eficiência células não-ativadas, diferentes dos vetores virais que são normalmente utilizadas. Uma das vantagens que contribuem para facilitar o processo é o fato de não necessitar de laboratório de biossegurança, para a produção das CAR-T.
Tornando mais rápida e barata a produção de células CAR-T
Para desenvolver a pesquisa premiada os pesquisadores formularam a seguinte pergunta: Será possível gerar células CAR-T eficientes, pulando etapas de ativação e de expansão? Ou seja, modificar geneticamente e reintroduzir no paciente em menos de 24 horas? Essa abordagem foi chamada de Point-of-Care.
Luiza Abdo explicou que para testar esta ideia foram usados camundongos imunodeficientes, previamente enxertados com diferentes leucemias de células B e tratados com as células CAR-T recém-modificadas. "Neste experimento observamos um ganho de sobrevida nos animais tratados com células CAR-T se comparados com os controles" - observou.
Em outro experimento foram comparadas, lado a lado, as células recém-modificadas do Martin Lab com as células ativadas e expandidas no protocolo tradicional. "Notamos que a sobrevida de ambos os grupos tratados foi similar. Isso demonstra que a proposta do MartinLab pode ser uma alternativa viável e de menor custo, para a produção de CAR-T. Além de diminuir o tempo e a complexidade do processo, pode gerar um impacto positivo para a população no geral, principalmente nos países em desenvolvimento" - avaliou a doutoranda premiada.
"Iniciativas como esta, do Prêmio Marcos Moraes, incentivam os pesquisadores brasileiros a seguir fazendo ciência de qualidade e nos faz sentir recompensados e estimulados para continuar lutando por um Brasil mais justo" - observou Luiza Abdo.
O Prêmio Marcos Moraes de Pesquisa e Inovação para o Controle do Câncer é uma iniciativa da Fundação do Câncer em parceria com o Instituto Oncoclínicas com o objetivo de fomentar através da premiação as melhores iniciativas inovadoras voltadas para o controle do câncer no Brasil.
Por Lúcia Beatriz Torres, jornalista de Ciência, responsável pelo Núcleo de Divulgação do Programa de Oncobiologia.
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