As mudanças nos hábitos alimentares têm aumentado a incidência de doenças metabólicas, com ênfase para neoplasias e diabetes. Com a pandemia de Covid-19, esse quadro piorou ainda mais. Estatísticas revelam que o câncer é a 2ª causa de mortes no Brasil, e o diabetes, está em 7º lugar. Uma doença, entretanto, pode estar relacionada com a outra.
Quanto mais doce melhor...Será a glicosilação o elo entre o câncer e o diabetes? Na tentativa de investigar como a hiperglicemia pode influenciar no desenvolvimento do câncer, a Profª. Adriane Todeschini, do Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho (IBCCF | UFRJ), desenvolve estudos no Laboratório de Glicobiologia Estrutural e Funcional (LaGEF), para pesquisar a importância dos açúcares na progressão tumoral.
A relação entre diabetes e o câncer foi o tema da segunda palestra do Ciclo de Seminários Presenciais do Programa de Oncobiologia em parceria com os Seminários Antônio Luiz Vianna (ALV). O evento, que faz parte da Disciplina Seminários Plenos do Programa de Pós-Graduação em Química Biológica do IBqM/UFRJ, foi realizado no dia 21 de junho de 2022, no Centro de Ciências da Saúde (UFRJ) da UFRJ.
A glicosilação é um processo no qual açúcares são adicionados a sítios específicos na superfície de proteínas e lipídios. Diferente das células normais, as células tumorais apresentam uma elevada captação de glicose e uma glicosilação aberrante (alterada). Essa glicosilação aberrante pode ser usada para diagnosticar diferentes tipos de câncer, como câncer
de mama, glioblastoma e câncer de cólon.
Adriane Todeschini e seu grupo de pesquisa têm desenvolvido estudos in vitro e in vivo que demonstram a importância da glicosilação em alguns tipos tumorais, em particular o câncer de colón. Os estudos demonstraram que a glicosilação estaria envolvida no processo de transição epitélio-mesenquimal (TEM) e poderia ser apontada como um possível mecanismo molecular que liga alguns tipos de tumores com a diabetes.
A transição epitélio-mesenquimal (TEM) é o processo pelo qual as células cancerosas perdem as características epiteliais de adesão à lâmina basal e entre si e adquirem características mesenquimais, com capacidade de maior motilidade, migração, invasão e colonização de outros tecidos, além de resistência à quimioterapia.
Segundo a pesquisadora, evidências sugerem que a glicosilação intracelular desempenha um papel importante nos eventos relacionados à TEM. Os resultados do seu grupo de pesquisa têm demonstrado que a inibição desta glicosilação, reprograma as células para um fenótipo epitelial diminuindo a migração celular.
Adriane Todeschini é pesquisadora associada ao Programa de Oncobiologia e foi contemplada com o Edital de Pesquisa 2022, financiado pela Fundação do Câncer, com um projeto para desenvolver uma nova estratégia para o tratamento do câncer focado na reprogramação celular através da inibição da glicosilação aberrante. Vem novidade por aí!
Por Lúcia Beatriz Torres, jornalista de Ciência, responsável pelo Núcleo de Divulgação do Programa de Oncobiologia.
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