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Colonoscopia e ultrassom contra o câncer colorretal

Atualizado: 7 de fev. de 2023

Um longo fio com uma pequena câmera, que navega pelo sistema digestivo em busca de imagens de pólipos (crescimento anormal de tecido) no intestino e identifica indícios de câncer. A colonoscopia é um exame de rotina para a detecção precoce de câncer colorretal, capaz de identificar a doença antes mesmo que outros sintomas liguem o alerta, como sangue nas fezes ou dores. Porém, pesquisadores de biologia e engenharia biomédica querem ir mais fundo, e fazem testes com um novo tipo de exame que une a colonoscopia à técnica do ultrassom. De acordo com as evidências coletadas até agora, a combinação dessas duas técnicas fornece mais informações sobre o estado das camadas do intestino, ajudando a diagnosticar inflamações e tumores do cólon e também avaliar a recuperação da mucosa intestinal durante tratamentos.


"Em um exame de colonoscopia você poderia ver a forma de um tumor na área do lúmen, que é a cavidade por onde passam as fezes. E o ultrassom permite visualizar também as camadas internas. Por exemplo, muitas vezes o tumor pode ser observado na colonoscopia como grande, mas pode não ser grave, por não estar invadindo as camadas internas", afirma Helena Borges, do Laboratório de Biologia Tumoral da UFRJ, integrante do Programa de Oncobiologia. "Por outro lado, uma elevação menor no lúmen pode esconder um tumor que está crescendo para baixo, se enraizando, e esses são os casos mais difíceis de detectar. O enraizamento interfere no diagnóstico do câncer e no quão agressivo é o tumor".


A ultrassonografia é um método diagnóstico que utiliza um equipamento que envia sons a uma frequência altíssima e que capta o eco desse som emitido, gerando dados que são traduzidos em imagens por um computador. Na primeira etapa da pesquisa, um transdutor de ultrassom miniaturizado foi acoplado a um aparelho colonoscópio. Na ocasião, os pesquisadores induziram o câncer colorretal em camundongos, realizaram o exame com o equipamento, e compararam as três imagens: as imagens obtidas pela câmera da colonoscopia, as imagens geradas pelo exame ultrassom e com a análise histológica dos tumores dos animais, quando os pesquisadores abriram os intestinos e mediram os tumores. Nesta etapa, concluíram que a utilização do ultrassom de forma associada à colonoscopia forneceu mais informações sobre as camadas intestinais e a presença de lesões inflamatórias e tumorais, facilitando o diagnóstico da inflamação e do câncer de cólon. Bingo.


Agora, diferentes pesquisas estão dando continuidade às investigações, que começaram sob a coordenação do professor João Carlos Machado, do Laboratório de Ultrassom do Programa de Engenharia Biomédica da COPPE, e reúne Rossana Soletti, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Helena Borges, da UFRJ, e outros pesquisadores.


Novos artigos estão sendo escritos pelo grupo, descrevendo os resultados de duas pesquisas com a nova técnica. Em uma delas, os cientistas estão investigando a possibilidade de combinar agentes de contraste ao exame da biomicroscopia ultrassônica abdominal. Ou seja: injetando microbolhas de gás no sangue dos camundongos, logo antes do exame, é possível melhorar a qualidade da imagem e dos dados coletados na biomicroscopia.


Em outro estudo, também em fase de finalização, o pesquisador Rodrigo Oliveira, que faz doutorado sanduíche na Universidade de Toronto, está desenvolvendo um software que automatiza a captura das imagens do ultrassom e permite a reconstrução tridimensional. A técnica permite visualizar detalhes da lesão tumoral, como as bordas do tumor, o volume, o grau de invasividade nas camadas do lúmen - e acompanhar o seu desenvolvimento, ao longo do tempo.


"Nosso objetivo é que essa tecnologia no futuro possa diminuir a necessidade das biópsias frequentes e aprimorar o acompanhamento das lesões tumorais dos pacientes", afirma Rossana Soletti, da UFRGS. "Mas para isso, são necessários testes clínicos, para confirmar se os resultados que temos com os animais também serão visíveis em seres humanos".


Os resultados são tão animadores que a nova técnica já vem sendo usada em experimentos científicos. "Por exemplo, podemos utilizar esse equipamento nos experimentos com animais em estudos para desenvolver novos medicamentos contra o câncer de cólon. Como a técnica nos permite acompanhar o desenvolvimento dos tumores e saber o quanto a medicação está sendo efetiva por meio de exames de imagens, podemos diminuir a quantidade de animais envolvidos na pesquisa", conclui Rossana.



Por Rosa Maria Mattos, jornalista de Ciência, responsável pelo Núcleo de Divulgação do Programa de Oncobiologia.


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