O impacto do consumo de carne vermelha e o câncer de cólon é tema de uma das pesquisas premiadas no último Simpósio de Oncobiologia da UFRJ. O estudo está investigando porque comer carne vermelha pode piorar o quadro dos pacientes – induzindo o crescimento do tumor e favorecendo que o câncer se espalhe para outros órgãos.
O câncer de cólon afeta a parte final do intestino grosso, e pesquisas epidemiológicas – ou seja, que fazem mapeamentos estatísticos na população – já identificaram a carne vermelha como um fator de risco para a doença. Agora, cientistas buscam compreender os mecanismos celulares que explicam a associação entre o consumo do bife – querido por muitos brasileiros – e a progressão do câncer de cólon. A pesquisa é realizada pela mestranda Ana Luiza Lopes, no Laboratório de Glicobiologia Estrutural e Funcional da Universidade Federal do Rio de Janeiro, onde é orientada por Adriane Todeschini e Frederico Alisson Silva.
Um dos fatores que levam a carne vermelha a favorecer o crescimento do câncer é que ela possui um açúcar que não é produzido pelo nosso corpo. “Diversos mamíferos produzem esse açúcar, mas não os humanos. Ao longo da nossa história evolutiva, o gene responsável por mandar que as células produzam esse açúcar – chamado de Neu5GC – foi desativado em nosso DNA. Ou seja, quando comemos carne bovina ou de porco, por exemplo, esse açúcar ingerido é reconhecido pelo nosso sistema imunológico como um corpo estranho, o que desencadeia um processo inflamatório”, afirma Ana Luiza.
Mas será que é esse processo inflamatório provocado pelo açúcar da carne vermelha que provoca a piora do câncer de cólon? A equipe desconfia que existem outros fatores relacionados. “Nossa hipótese é que o consumo desse açúcar pode estar induzindo vias de sinalização que vão induzir a progressão de câncer por proliferação celular e diferenciação das células, aumentando as chances de metástase. E como o câncer de cólon é altamente mortal e com grande taxa de disseminação pelo corpo, é importante a gente compreender melhor como isso acontece dentro de cada célula”, avalia Ana Luiza.
Apesar de seu projeto ter sido destacado no Simpósio, a pesquisa de Ana Luiza ainda está em curso, e tem previsão de conclusão no meio do ano que vem. Até lá, ela pretende fazer experimentos com outras vias de sinalização além da principal que vem sendo estudada – a via de Wnt – e testar a hipótese em camundongos.
Por Rosa Maria Mattos, jornalista de Ciência, responsável pelo Núcleo de Divulgação do Programa de Oncobiologia.
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